Nos rostos de Maputo nunca falta um sorriso.
A delicadeza das pessoas, abraça-nos a cada encontro. Sinto que querem saber. Como está? Como correu ontem?, pergunta-me a Marlene, segurança do prédio onde estou. E vive comigo cada momento do que lhe conto. Troca experiências comigo e fala-me dos livros que lê e de como adora comprar livros com desconto. Saio. Atravesso a rua olhando para os dois lados freneticamente. Nunca me vou habituar a esta maneira de conduzir ao contrário. E, também, eu sorrio, porque é o que faço sempre — corro e riu-me do perigo de atravessar uma estrada — (se for para morrer, que seja de sorriso no rosto!) e porque sei que do outro lado da estrada vou cruzar-me com as senhoras da fruta. Olá, amiga! Como vai? Já comeu a outra frutinha toda? Tenho umas papaias deliciosas. Continuo. Umas vezes compro, outras não. Mas a troca de sorrisos está sempre presente. Independentemente da quantidades de vezes que me cruzo com elas.
Chego ao Nata. Olá, doutora como está? O de sempre? Hoje tem um tempinho para beber o café aqui? É para já. Sejam seis da manhã, sejam dez, sejam vinte horas. Sempre um sorriso. E não é um sorriso de conveniência, não. É um sorriso de simpatia.
O meu dia continua, cruzo-me com várias pessoas. Não as conheço, mas elas sorriem. E eu sorrio de volta. Cruzo-me com mulheres lindíssimas, na rua, ao volante de automóveis, sorriem. E eu sorrio de volta.
Maputo não é só um clima quente com cheiro a amêndoas doces, as pessoas, por piores condições de vida que tenham, vestem-se de sorrisos e acolhem, quem lhes demonstra o mínimo de afecto e respeito, de braços abertos e abraços apertados. E sinto, cada dia mais, uma revolução cultural que umas quantas pessoas estão a pôr em curso.
Estes sorrisos de Maputo fazem-me sentir em casa, dão-me um sentido de pertença, onde se sentem ventos de mudança e onde as pessoas, independentemente da sua classe social, ainda dão valor a coisas simples. As coisas pequenas — que nós na Europa já não nos lembramos bem como são porque andamos tão assoberbados com os empregos, e os carros, e as coisas materiais — simples, como um sorriso ou um abraço ou a partilha de um dia, valem ouro em Maputo e são sinónimos de felicidade. Que beleza infindável.
Ventre
Cabelos entrançados,
palmeira livre decorada de contas,
saltitando ao ritmo dos ventos,
o seu ventre sagrado
anda à frente, abrindo-lhe caminhos.
Marca o passo dos futuros,
que juntas vão construir.
No pensamento conta-lhe já contos,
de rainhas descalças, fortes, guerreiras,
que foram apagadas dos livros,
mas reativadas pelas poetas,
pelas irmãs que lutam nas ruas,
pelas mulheres que escolhem os seus destinos.
— Não te preocupes, criança.
Preparamos o mundo para te receber.
Prenhe de palavras, pensamentos e sorrisos,
mulheres ancestrais às costas,
futuro no ventre,
rodeada de irmãs,
salvará os mundos.